No céu desenhavam-se as sombras das torres e das empenas.

Ao passarem pela igreja de Elder Snow, alguns deles voltaram-se para trás e olharam a cidade de Providence, adormecida sob as estrelas primaveris.

Deixando as docas, subiram o pequeno declive da Broad Street, direitos à estrada de Pawtuxet.

Todos esses homens, assim como os marinheiros que tinham ao seu serviço, se puseram imediatamente em marcha, sérios e apreensivos.

Weeden e Smith juntaram-se a eles e, do grupo dos maiorais, pegaram em armas o capitão Wipple, que comandava, o capitão Esch Hopkins, John Carter, o presidente Manning, o capitão Mathewson e o Dr. Bowen; assim como Moses Brown, que compareceu às onze e não assistiu por isso à reunião realizada na estalagem.

Assim que Weeden apareceu, todos os expedicionários cerraram fileiras no meio da rua, uns de mosquete ao ombro, outros com caçadeiras ou mesmo harpões de pescar baleias.

Significava isto que não era preciso esperar pela chegada de Weeden para se saber que o infame ia dar início às suas feitiçarias blasfemas.

Cerca das dez e meia ouviu-se um ruído surdo na ponte, seguido da chiadeira da traquitana a passar na rua.

Entre os chefes, na sala das traseiras, estava Eleazar Smith; esperavam a chegada de Erza Weeden cuja missão era espiar todos os movimentos de Curwen e vir anunciar a partida deste para a quinta.

Fez-se uma última reunião estrita, na sala das traseiras, posto o que o capitão Whipple regressou ao salão e discursou aos marinheiros, dando-lhes as últimas instruções.

Entre as personalidades que encabeçavam o grupo, contavam-se, além do chefe Brown, o Dr. Bowen, com a sua maleta de instrumentos cirúrgicos; o presidente Manning, sem o chinó (o maior de toda a colónia) que todos lhe conheciam; o procurador Hopkins, rebuçado num capote preto e acompanhado pelo seu irmão Esch, a quem, com licença do grupo, tinha posto ao corrente da situação; John Carter, o capitão Mathewson e o capitão Whipple, encarregado de comandar a operação final.

De acordo com o diário de Smith, na sexta-feira, 12 de Abril de 1771, às dez horas da noite, juntaram-se cerca de cem homens no salão da estalagem de Thurson, a das insígnias do Leão de Ouro, na ponta de Weybosset, do lado de lá da ponte.

A suspeita, comprovada pelo estranho raio de luz, de que Curwen tramava um acto fora do comum, acabou por precipitar a acção cuidadosamente preparada por aquele grupo de cidadãos respeitáveis.

4

Mr. Brown confiou-lhes a vigilância da quinta de Curwen e a missão de o informarem regularmente de todos os incidentes que ali viessem a acontecer.

Impossível dizer se eles deram ou não crédito à informação de Brown; mas tinham assistido a tantas coisas fora do comum que estavam predispostos a atribuir ao estranho vizinho tudo quanto saísse do normal.

E, à guisa de justificação, disse-lhes que Curwen era espião dos funcionários da alfândega de Newport, contra os quais todos os armadores, comerciantes e agricultores de Providence se insurgiam aberta ou clandestinamente.

Achou necessário dar-lhes essa informação, porque eles não poderiam deixar de testemunhar o assalto final.

Brown tinha passado a ser o chefe do grupo seleccionado com vista à eliminação de Curwen e informara já os Fenners de que se preparava um golpe.