Tal como Orne tinha confessado ao seu correspondente, era muito difícil viver permanentemente em Salem; por esse motivo, tinha-se ausentado durante trinta anos no estrangeiro, para depois vir reclamar os seus bens como se fosse o representante duma nova geração.

Ward não precisou de muito tempo para, uma vez identificada a escrita, comprovar a conclusão a que tinha chegado ao ler a carta dirigida a Curwen, ou seja, que Simon Orne e o seu suposto filho eram uma e a mesma pessoa.

O que mais de imediato lhe interessava era a documentação respeitante a Orne.

Nunca, todavia, afirmou claramente se a tinha ou não descoberto.

No mês de Agosto, esse trabalho tornou-se intenso e febril e, tanto pelo que dizia como pelo modo como se comportava, é de crer que tenha encontrado a chave antes de Outubro ou Novembro.

Ward tirou uma cópia fotostática do manuscrito e começou o trabalho de decifração, logo que a teve em seu poder.

Havia por outro lado um catálogo proveniente da hedionda biblioteca de Hutchinson, descoberta após o seu desaparecimento, e um manuscrito incompleto do seu punho, redigido numa linguagem cifrada que ninguém conseguiu ler.

Havia quatro ou cinco alusões inegáveis nos arquivos dos processos de feitiçaria: assim, aos 10 de Julho de 1692, um tal Hepzibah Lawson, jurava no tribunal de Oyer e Terminen, perante o juíz Hathorne que "nas Matas por detrás da casa de Mr. Hutchinson se costumavam reunir quarenta Feiticeiros mais o Homem Negro"; e Amity How declarou em sessão de 8 de Agosto perante o juíz Gedney que "Mr. G. B. (George Burroughs) tinha nessa Noite aposto a Marca do Diabo a Bridget S., Jonatahn A., Simon O. Deliverance W., Joseph C., Susan P., Mehitable C. e Deborah B.".

Sobre estes estranhos casos abundava a documentação no Essex Institute, no Palácio da Justiça e nos Registos Civis, à mistura com vulgares títulos de propriedade, registos de compra e venda e outros papéis da mais incrível índole.

A reclamação foi aceite, na base de documentos que Simon Orne tinha autenticado e Jedediah Orne lá continuou a viver em Salem até 1771, data em que certas cartas provenientes de Providence, dirigidas ao reverendo Thomas Barnard e a outras pessoas, o obrigaram a transferir-se para parte incerta.

Mas, trinta anos passados, um filho que era igual a ele em tudo veio reclamar os bens que o pai tinha deixado.

Aí, desapareceu imediatamente.

Simon Orne viveu em Salem até 1720, altura em que começou a chamar a atenção o facto de não envelhecer.

Também Curwen desapareceu nessa mesma época, mas soube-se passado pouco tempo que se encontrava em Providence.

Desapareceu na altura em que começou o grande terror dos feiticeiros e nunca mais de ouviu falar dele.