Embora não repelisse uma visita, erguia um tal muro de reserva entre ele e os outros que só muito poucos achavam possível trocar com ele mais do que simples banalidades.

Mas, ninguém sabia porquê, Curwen prezava pouco a vida social.

Veio a saber-se que Joseph Curwen tinha viajado muito quando jovem, que tinha vivido na Inglaterra e feito pelo menos duas viagens ao Oriente ; quando se dignava falar, fazia-o num inglês cultivadíssimo.

Sabia-se que Curwen provinha de boas famílias: os Curwen ou Curwen de Salem eram conhecidos em toda a Nova Inglaterra.

A casa de Curwen era também falada entre as pessoas da melhor sociedade; à medida que o recém-chegado penetrava na comunidade religiosa e comercial, ia travando conhecimento com personalidades distintas e de convívio naturalmente agradável.

Era menos misteriosa do que a casa da quinta, mas também ali se viam as luzes acesas durante toda a noite; lá viviam apenas dois criados estrangeiros e de tez escura; a governanta era uma velha francesa sem idade; as quantidades de comida que se viam entrar para aquela casa eram demasiadas para duas pessoas; também o som das vozes que dialogavam a horas menos próprias , combinado com o que se passava na quinta de Pawtuxet, contribuía para a má fama do local.

Os ociosos da Ponte Maior diziam o pior da casa de Curwen em Olney Court, não da bonita casa erguida em 1761, quando Curwen andava pelos cem anos de idade, mas da que a antecedeu, uma habitação de telhado baixo, águas-furtadas sem janelas e com paredes de ripas, cujo travejamento foi cuidadosamente queimado na altura da demolição.

Muito mal vista também era uma construção de pedra sem mais janelas do que umas frestas muito estreitas.

Este gado era substituído todas as semanas, estavam sempre a chegar novos carregamentos adquiridos aos criadores de Kingstown.

E não lhes agradavam muito as numerosas manadas de gado que pastavam nas redondezas, em quantidade maior que a necessária para fornecer de carne, leite e lã um velho solitário e o pouco pessoal que tinha ao serviço.

Eram gritos, diziam, e uivos prolongados.

Os vizinhos da quinta, os Fenners, que moravam a um quarto de milha de distância, diziam ouvir durante a noite determinados sons provenientes da quinta de Curwen.

Os estranhos carregadores que lá iam fazer entrega de fantásticas garrafas, sacos e caixas, entrando pelas portas das traseiras, falavam uns com os outros de provetas, alambiques, cadinhos e fornos que tinham visto na sala baixa e forrada de prateleiras; e diziam à boca pequena que o sorumbático alquimista não tardaria a encontrar a Pedra Filosofal.

Num anexo à casa rural estava o laboratório onde se realizavam muitas das experiências químicas.

O homem era mudo e tinha a cara desvastada por cicatrizes; a mulher tinha um aspecto repugnante, devido provavelmente a uma mistura de sangue negro.

Os únicos criados, quinteiros ou feitores que ali mantinha era um casal de índios Narragansett.

Tinha na estrada de Pawtuxet uma quinta onde passava o Verão e onde ia muitas vezes de carruagem, nas horas mais desencontradas, tanto de dia como de noite.

Viam a paixão dele pelos cemitérios, que frequentava a toda a hora, nas mais diversas circunstâncias, muito embora ninguém tivesse testemunhado qualquer acto sacrílego da sua parte.

Algumas cartas e diários íntimos revelam muitos outros motivos que levavam a cidade a ter medo e a fugir de Joseph Curwen como quem foge da peste.

Passados uns bons cinquenta anos, Curwen dava a impressão de não ter envelhecido mais de cinco e as pessoas começaram a murmurar, ao mesmo tempo que o votavam a um isolamento que ele sempre mostrou desejar.

Crendo que ele possuía dons medicinais maravilhosos, eram muitos os doentes que lhe pediam auxílio; ele não deixava de alimentar essa crença, sem se comprometer, limitando-se a dar-lhes umas poções de cor castanha que em breve se viu não darem qualquer resultado.

E quando o velho Dr. Jabez chegou de Rehoboth e abriu uma farmácia na outra banda da Ponte Maior, com um licorne e um almofariz na tabuleta, Curwen estava lá a toda a hora a encomendar drogas, ácidos e metais.