Estranho foi o modo como Ward deixou, aparentemente, de se interessar pela antiguidade com que se tinha profundamente familiarizado; passou a fazer esforços no sentido de adquirir o conhecimento dos factos mais banais do mundo moderno que antes tinha banido por completo do seu cérebro.

Os lapsos de informação detectados pelos alienistas relacionavam-se todos com factos recentes e eram invariavelmente compensados por invulgares conhecimentos referentes ao passado, geralmente esquecidos pelo doente mas facilmente trazidos à superfície por interrogatórios hábeis; dava muito a impressão de que o paciente se tinha transferido para uma época recuada mediante uma obscura espécie de auto-hipnose.

Há que ter em conta estes gostos para se compreender a sua loucura, pois, se é certo que não constituem o cerne da doença, também é verdade que desempenham um importante papel na forma como ela se manifesta.

À medida que crescia, aumentava a sua devoção pelas coisas antigas; tanto que os seus centros de interesse passaram desde muito cedo a ser a história, a genealogia, o estudo da arquitectura, do mobiliário e do artesanato coloniais.

Charles Ward manifestou desde muito pequeno inclinação para as pesquisas arqueológicas, inclinação a que não deviam ser alheias a cidade veneranda em que vivia e as relíquias do passado existentes em todos os cantos da velha mansão paterna, situada em Prospect Street, no ponto mais alto da encosta.

Só alguns amigos íntimos de Willett e do pai de Ward manifestaram algumas suspeitas, mas todas elas demasiado fantasiosas para se lhes poder dar crédito. Uma única coisa é certa: até hoje, não se descobriu rasto do louco desaparecido.

O pai de Ward foi logo avisado pelo telefone e manifestou mais tristeza do que surpresa. O Dr. Waite foi visitá-lo pessoalmente, encontrou-o na companhia do Dr. Willett e ambos negaram ter conhecimento ou sido cúmplices da fuga.

Os cães tinham ladrado momentos antes, numa altura em que Willett ainda estava no quarto; depois disso, não deram sinais de agitação.

Ao abrirem a porta, viram a janela escancarada e, trazida pela brisa fria de Abril, uma nuvem de pó acinzentada que enchia o quarto e esteve prestes a asfixiá-los.

Tinha-se encontrado com Ward no quarto, mas, logo depois de ele ter saído, os enfermeiros bateram à porta e Ward já lá não estava.

Muita gente teve a impressão de que a vontade dele era falar se tivesse a certeza de que seria acreditado por um número considerável de pessoas.

Este não foi capaz de dar qualquer explicação, mas é certo que deu mostras de se sentir mais aliviado depois do desaparecimento de Ward.