Charles Ward compreendeu imediatamente que tinha encontrado um antepassado até então desconhecido.

Esta declaração foi descoberta após a separação de duas folhas coladas entre si que, para efeitos de numeração, funcionavam como uma só, o que levara à emenda de todos os números das páginas.

Em fins de 1918, examinando um manuscrito dos arquivos municipais, o jovem genealogista descobriu uma folha que mencionava uma mudança legal de nome, mediante a qual, no ano de 1772, Mrs. Eliza Curwen, viúva de Joseph Curwen, retomava, juntamente com a sua filha Ann de sete anos, o nome do pai, o capitão James Tillinghast; pela boa razão de "o nome do seu Marido se ter tornado em Opróbio Público, por Motivos conhecidos após a sua Morte, os quais confirmavam um antigo Rumor a que ela como leal Esposa não tinha dado fé mas que agora se tinha provado sem margem para Dúvida".

O trisavô de Ward, Welcome Potter, havia desposado em 1785 uma tal "Ann Tillinghast, filha de Mrs. Eliza, filha por seu lado do capitão James Tillinghast", cuja paternidade não estava consignada em nenhum documento familiar.

Depois, pouco a pouco, insidiosamente, operou-se nele uma mudança, no seguimento de algumas descobertas genealógicas relacionadas com um antepassado do ramo materno, um tal Joseph Curwen, vindo de Salem em Março de 1692, homem que teve uma vida extraordinariamente longa e sobre o qual se contava toda uma série de histórias estranhas e inquietantes.

Os cemitérios atraíam-no apenas pelo seu pitoresco e valor histórico, sem qualquer mistura de violência ou instinto selvagem.

O Dr. Willett assevera que, até à data da primeira transformação, não havia na actividade arqueológica de Charles Ward quaisquer vestígios de morbidez.

Estas andanças, a par dos estudos aturados com que sempre as acompanhava, contribuíram em muito para a grande soma de conhecimentos arqueológicos que acabaram por separar o espírito de Charles Ward da realidade quotidiana; são também reveladoras da natureza do solo em que, durante o fatal Inverno de 1919-1920, caiu a semente de que viria a nascer uma tão estranha e pavorosa colheita.

Dedicava às vezes metade do passeio às zonas coloniais situadas a noroeste da sua casa, no sítio onde a colina desce até ao planalto de Stampers Hill com o seu gueto e o bairro negro, que cercam a praça donde em tempos anteriores à Revolução partia a dilligência para Boston; a outra metade era dedicada ao gracioso bairro sul, entre as George, Benevolent, Power e Williams Streets, onde se podem ver, inalteráveis, uma série de belas moradias, cercadas de jardins fechados e uma calçada verdejante e íngreme, povoada de recordações agradáveis.

Anos mais tarde, o seu grande objectivo era procurar um tudo contrastes pronunciados.

Depois de se demorar nesta contemplação, ficava a modos que embriagado, apaixonado, como os poetas, pela luz, e, posto o Sol, regressava a casa, contornando a igreja branca e metendo pelas ruas tortuosas e estreitas, à hora em que as luzes começam a acender-se nos postigos e nas lanternas penduradas ao cimo das escadarias duplas, ladeadas por curiosos corrimões de ferro.

A coisa de que ele mais gostava era chegar ali ao fim da tarde, quando o Sol, ao esconder-se, dourava a Casa dos Mercadores, as torres e os telhados, emprestando cores mágicas aos cais de sonho onde as naus vindas das Índias costumavam aportar.

Nesta praça, quedava-se a beber com os olhos toda a estonteante beleza da cidade velha, desde a ponta oeste em forma de proa, passando pela coberta, semeada de pináculos jorgianos, dominandos pela enorme cúpula da Christian Science, tal como Londres é denominada pela St. Paul.