Às vezes, já mais velho e aventureiro, o jovem Ward atrevia-se a descer até às profundas daquele bairro em ruínas, repleto de casas com vidraças quebradas, escadas sem degraus, caras queimadas e cheiros sem nome; descendo de South Main para a South Water, dava volta às docas onde alguns vapores ainda vêm atracar e, cortando depois para norte, passando pelos armazéns de telhados íngremes construídos em 1816, ia dar à Praça da Ponte Grande, onde a Casa dos Mercadores, erigida em 1773, continua solidamente firmada nos seus arcos antiquíssimos.

Aqui e mais para sul, os edifícios melhoravam de aspecto, as casas eram mais modernas; mas nem por isso as velhas vielas deixavam de descer abruptamente para oeste, espectrais, arcaicas, com os seus telhados pontiagudos, aglomerados no caos decadentemente colorido do porto mal-afamado que continua a sonhar com os orgulhosos tempos das Índias Orientais e onde vive uma população viciosa, sórdida, e poliglota, entre embarcadouros apodrecidos, esquálidas lojas de apetrechos navais e vielas que continuam a ostentar nomes como Paquete, Barra, Ouro, Prata, Moeda, Dobrão, Soberano, Florim, Dólar, Cêntimo.

Vinha depois a primeira igreja baptista, erguida em 1775, grandiosa, com o seu incomparável campanário da autoria de Gibbs, rodeado de telhados e cúpulas jorgianas.

Na Meeting Street (que tinha sido sucessivamente Gaol Lane e King Street) olhava em redor, voltava-se para leste e via as escadinhas de pedra a que a rua tinha de recorrer para continuar a subir; a oeste, avistava a velha escola colonial de tijolo, mesmo em frente à casa da tabuleta com a efígie de Shakespeare onde, antes da Revolução, se imprimia a Providence Gazette and Country Journal.

Achava muito mais agradável prosseguir pela Benefit Street, junto aos muros gradeados do adro da Igreja de St. John, e por trás da Colony House, datada de 1761, e da arruinada Golden Ball Inn onde Washington tinha pernoitdado.

Ali desembocavam numerosas vielas cujas casas antiquíssimas se aglomeravam umas em cima das outras; e, apesar do fascínio que sentia, foi preciso muito tempo para ele se aventurar a percorrer aquelas vielas antigas e íngremes, receoso de poder dar consigo no meio de um sonho ou de entrar pela porta de terrores desconhecidos.

Para oeste, o declive da colina era mais pronunciado e levava até à Town Street, construída pelos fundadores mesmo à beira do rio, em 1636.

No lado oriental, as casas tinham todas duplas escadarias de pedra e o jovem Charles imaginava-as novas em folha, quando de sob os frontões pintados, agora em decadência, emergiam as esporas e as perucas dos primeiros moradores.

Os casarões tinham-se transformado em pardieiros, mas os ulmeiros titânicos continuavam a protegê-los com as suas manobras reconfortantes e o pequeno Charles deliciava-se a deambular mais para sul, ao longo das filas de casas pré-revolucionárias, de chaminés mesmo ao centro e pórticos clássicos.

Descia cautelosamente o declive quase vertical da Jenckes Street, ladeada de muros e telhados coloniais, e virava na esquina da Benefit Street; via-se então diante duma antiga casa de madeira com as duas portadas ornadas de pilastras jónicas, ladeada por outras casas de telhados curvos e pré-históricos, à moda rural, e logo a seguir a casa do juíz Durfee, com alguns vestígios do esplendor jorgiano.

Foi descendo cada vez mais os caminhos da colina, aventurando-se até à parte mais velha e mais típica da cidade antiga.

Mais crescido, começou a dar os seus famosos passeios; primeiro com a impaciente e apressada ama e mais tarde sozinho, em vagaroso devaneio.