Tudo se faria sem barulho e nem a viúva nem o sogro precisariam de saber como tinha sido.

No caso de se demonstrar que era louco e se limitava a buscar divertimento em interrogatórios terríficos e imaginários, imitando as mais diversas línguas, tratariam de o encarcerar; se o caso fosse mais grave e os horrores subterrâneos fossem reais, tanto ele como os seus teriam de morrer.

Curwen teria de ser apanhado em flagrante por um grupo de corsários experimentados que lhe dariam uma derradeira oportunidade de se experimentar.

Aquela era uma época sem lei e homens que durante anos tinham desafiado a força armada do rei não iriam hesitar em recorrer a grandes meios quando o dever os obrigava.

Exerceria represálias e, ainda que a sinistra criatura se dispusesse a cumprir uma ordem de expulsão, de nada serviria transferir a ameaça de um para outro local.

Com os poderes ocultos e de alcance incerto que tinha ao seu dispor, Curwen não iria obedecer à ordem de abandonar a cidade.

Não informaram o governador, porque se impunha o recurso a meios extralegais.

Antes do final da reunião, apoderou-se de toda a assembleia um certo temor; mas, a par dele, existia em todos uma forte determinação, bem expressa na meia dúzia de obscenidades que o capitão Whipple deixou escapar.

Foi-lhes pedido, a ele e a Smith, que contassem minuciosamente o que sabiam.

O Capitão Mathewson leu pacientemente os apontamentos que Weeden lhe tinha confiado.

Em fins de Dezembro de 1770, reuniu-se em casa de Stephen Hopkins um grupo de notáveis, para debater as medidas a tomar.

Curwen era efectivamente uma ameaça potencial à prosperidade da cidade e de toda a colónia, pelo que tinha de ser eliminado.

Se é certo que duas ou três das pessoas escolhidas se mostraram cépticas face ao relato fantasmagórico de Weeden, a verdade é que toda a gente, sem excepção, apontou para a necessidade de se actuar em segredo e de forma coordenada.

A missão do capitão Mathewson teve resultados que ultrapassaram todas as expectativas.

No caso de aqueles homens se mostrarem receptivos, poderia posteriormente fazer-se uma reunião entre todos, para se decidir se era conveniente, antes de passarem à acção, informarem de tudo o governador colonial Joseph Wanton de Newport.

As pessoas a quem se devia contar o sucedido eram, no entender dele, o Dr. Benjamin West, cujo folheto sobre a última passagem de Vénus o creditava como pessoa estudiosa e arguta; o reverendo James Manning que se transferira temporariamente de Warren para a nova escola da King Street, enquanto se esperava a conclusão das obras do edifício novo, na colina sobranceira à Presbyterian Lane; o ex-governador Stephen Hopkins, antigo membro da Sociedade de Filosofia de Newport e homem de muito saber; John Carter, redactor da Gazette; os quatro irmãos Brown, John, Joseph, Nicholas e Moses, grandes magnatas da terra, um dos quais, Joseph, conceituado cientista amador; o velho Dr. James Bowen, homem de grande erudição e perfeito conhecedor de muitas das estranhas compras feitas por Curwen; por fim, o capitão Abraham Whipple, corsário dotado de ousadia e energia colossais, qualidades muito úteis quando chegasse a hora de se tomarem certas medidas.

Importava, além do mais, que a turba inflamável continuasse na ignorância dos factos, para se evitar a repetição, naqueles tempos por demais conturbados, do terrível pânico que, menos de um século antes, obrigara Curwen a fugir de Salem para a cidade.

Fosse como fosse, era necessário guardar o mais completo segredo, porque, num caso destes, as autoridades e a milícia não podiam actuar.

Disse-lhes que iria transmitir aquelas informações, em separado, a uma dezena dos mais sábios e proeminentes cidadãos de Providence, para saber a opinião deles e lhes pedir conselho.

No final da conversa, com ar grave, impôs aos dois jovens o mais completo silêncio.

Como quase todos os habitantes da cidade, também ele tinha algumas suspeitas contra Joseph Curwen; esta confirmação dos factos acabou por convebcê-lo de vez.